
Na cadeira de balanço o embalo era alto, fazendo os cabelos loiros da menina balançarem ao vento. Os pés não alcançavam o chão e ela, de olhos fechados, viajava nesse meio de transporte só seu. Bogotá, Teerã, Paris, Marrakech, Cambera, Barcelona, Cairo... Cada visita à casa do avô a levava a um destino diferente no mundo.
Ele, que pouco saiu do Ceará, a fazia viajar como nunca ninguém mais nos anos vindouros soube fazer. Enquanto a menina balançava, cerrava os olhos e ouvia a doce voz do avô relatando com todos os possíveis timbres as curiosidades e descobertas desse novo mundo que ganhava detalhes e nuances surpreendentes naquela voz.
Repetidamente o avô dizia: o homem culto há de viajar, ou ler. Com o dinheiro curto, com 12 filhos para criar, ele lia. Vorazmente. Foi através das suas leituras e do seu amor por mim que eu dei a volta ao mundo.
Foi por meu amor e gratidão a ele que nunca mais voltei a sentar naquela cadeira.
Sem sua presença, minhas viagens tornaram-se outras. Mais “reais”, porém certamente menos felizes e mais vazias.