quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O viajante





Na cadeira de balanço o embalo era alto, fazendo os cabelos loiros da menina balançarem ao vento. Os pés não alcançavam o chão e ela, de olhos fechados, viajava nesse meio de transporte só seu. Bogotá, Teerã, Paris, Marrakech, Cambera, Barcelona, Cairo... Cada visita à casa do avô a levava a um destino diferente no mundo.

Ele, que pouco saiu do Ceará, a fazia viajar como nunca ninguém mais nos anos vindouros soube fazer. Enquanto a menina balançava, cerrava os olhos e ouvia a doce voz do avô relatando com todos os possíveis timbres as curiosidades e descobertas desse novo mundo que ganhava detalhes e nuances surpreendentes naquela voz.

Repetidamente o avô dizia: o homem culto há de viajar, ou ler. Com o dinheiro curto, com 12 filhos para criar, ele lia. Vorazmente. Foi através das suas leituras e do seu amor por mim que eu dei a volta ao mundo.

Foi por meu amor e gratidão a ele que nunca mais voltei a sentar naquela cadeira.

Sem sua presença, minhas viagens tornaram-se outras. Mais “reais”, porém certamente menos felizes e mais vazias.

4 comentários:

  1. Às vezes eu me apego ao calendário e comemoro tristezas. Belo texto!

    Talita

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  2. Essa era você e sua avó, Bia!? Curiosidade! :)Delane.

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  3. Éramos eu e meu inesquecível avô sim, Delane. Bom ter você aqui me visitando! bjs

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  4. Uma viagem imaginada, contada é verdadeiramente melhor do que uma vivida, porque quando contada, não vamos falar dos problemas e similares.

    Muito legal o texto.

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