segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O silêncio e seu destino



Um estrondo. Um cimento que apara firme e cruelmente um corpo que cai das alturas. Um barulho de doer os ouvidos e a alma. Um fato. Sonoro. Todos acorrem e conferem o cimento manchado, porém intacto. Agora todos pensam numa só coisa. Na vida que o cimento roubou brutalmente.

Os fatos são sonoros. Uns mais, outros menos. Os silêncios, no entanto, nos passam despercebidos. O silêncio que ela fez dias a fio deveria comunicar. Sua missão não cumprida era essa. Era na verdade um grito, um pedido de socorro que a alma cansada não era mais capaz de ecoar.

Mas ninguém percebeu.

Marido, vizinhos, colegas. Ninguém. É que a dor, essa dor cotidiana que as pessoas carregam, não sai no jornal, não atrai atenção.

Cegos e surdos diante da exaustão de fatos que se sobrepõem continuamente, ignoramos essas dores. Até mesmo as nossas. As soterramos. E se alguém nos busca com dores até semelhantes, em geral adiamos, não lhes conferimos importância.

Por isso, ela preferiu tornar-se mais uma a lotar os consultórios.

Até aperceber-se do óbvio. O ouvinte pago não basta. É preciso mais. É preciso gritar essa dor presa, sufocada, porque o silêncio, esse companheiro indesejado, pode até não importunar o próximo, mas a ela molesta violentamente.

É um silêncio que vem do seu íntimo e que é mais forte que ela, um pedido de ajuda preso na garganta.

Um silêncio que apenas o cimento, seu destino, foi capaz de romper.

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